RETROSPECTIVA 2008: Fla tropeça na soberba e decepciona no ano
No dia 4 de maio, os jogadores do Flamengo dançaram o créu, fizeram o chororô e festejaram o título estadual sobre o Botafogo, no Maracanã. Três dias depois, no mesmo palco, o os heróis de dias antes deixavam o campo aos prantos eliminados da Taça Libertadores, xingados pela torcida e assistindo à festa de um time mexicano, comandado por um goleador paraguaio e parrudinho. .
A gangorra entre euforia e depressão descrita acima simbolizou o ano de 2008 na Gávea. O forte investimento para a temporada – a folha salarial beirou os R$ 3 milhões mensais – visava à conquista de títulos importantes.
O bicampeonato estadual seria o aperitivo de um ano glorioso. Seria. Entre declarações descabidas, abandono de Joel Santana e vexames no Maracanã, o time terminou o ano classificado como “fracassado” e sem a vaga na Taça Libertadores.
Depois de liderar o Campeonato Brasileiro por dez rodadas, o Flamengo ficou sete jogos sem vencer. Mesmo assim, teve outras chances de retornar à luta pelo título. Mas fracassou em todas. Ao todo, foram quatro derrotas e dois empates dentro de casa para times de outros estados.
A atuação brilhante na vitória por 5 a 2 sobre o Palmeiras com atuações de gala de Ibson e Kleberson, logo foi ofuscada por um tropeço incrível contra o Goiás. Depois de abrir 3 a 0, no Maracanã, a equipe parou e cedeu o empate. No fim, um quinto lugar amargo e a demissão do técnico Caio Júnior.
O PERSONAGEM
Pouco antes da final do Campeonato Carioca, Joel Santana anunciou que deixaria a Gávea para assumir o cargo de técnico da África do Sul. Para substituir o “papai”, a diretoria apostou no “tiozão” Caio Júnior.
O início foi arrasador. Ele assumiu a equipe após a tragédia para o América-MEX e conseguiu recuperar o moral dos jogadores. Nas 11 rodadas iniciais, o Flamengo abriu cinco pontos de vantagem na liderança.
Até que surgiu uma proposta do Qatar para retirá-lo. O Rubro-Negro se esforçou e manteve o treinador. Mas a locomotiva saiu dos trilhos. As saídas de Marcinho, Renato Augusto e Souza em julho simbolizaram uma época de vacas magras, com dois pontos somados em sete jogos.
Na hora da reconstrução do elenco, o técnico se perdeu. As nove contratações – a maioria recomendada por ele – foram pouco utilizadas. Houve problemas de relacionamento no grupo e as informações confidenciais vazaram a todo instante para a imprensa.
Pressionado, Caio Júnior fraquejou e antes de o Brasileiro terminar, havia decidido que não continuaria no clube em 2009. A decisão também era compartilhada pelos dirigentes. A despedida foi melancólica: derrota por 5 a 3 para o Atlético-PR. Na próxima temporada, ele comandará o Vissel Kobe, do Japão.
O DIA-CHAVE
A semana que antecedeu ao dia 11 de outubro foi apimentada pelas declarações do presidente Marcio Braga. Ele confiava no hexacampeonato e disse que já preparava a festa do título.
A torcida acreditou na euforia e bateu o recorde de público da edição de 2008 do Brasileiro: 77.387 pagantes e mais de 81 mil presentes estiveram no Maracanã e a assistiram a mais um vexame da equipe no ano: 3 a 0 para o Atlético-MG, que estava na parte inferior da tabela. Dali em diante, a confiança da torcida na equipe chegou ao fim.
LEMBRA DISSO?
Na véspera do jogo contra o Goiás, dia 5 de agosto, os jogadores do Flamengo realizavam um de seus muitos recreativos da temporada, quando um grupo de cerca de 30 torcedores invadiu a Gávea.
A hostilidade inicial transformou-se em violência quando uma bomba de fabricação caseira foi atirada no gramado. Estilhaços feriram Obina e Dininho levemente. Houve discussão e por pouco não ocorreu pancadaria. O capitão Fábio Luciano teve de intervir e conversou com os manifestantes.
Esta não foi a única vez em que o Flamengo foi parar nas páginas policiais em 2008. Pouco tempo antes, uma festa particular no sítio do goleiro Bruno, em Ribeirão das Neves-MG, terminou na delegacia. A acusação de agressão a uma prostituta recaiu sobre Marcinho.
O mesmo jogador também se envolveu em outro episódio polêmico na favela da Rocinha, no Rio. Ele foi acusado de atropelar um morador. O atacante negou o incidente e trocou o Brasil pela tranqüilidade do Qatar.
OS NUMEROS
17 | 9,52% | 40.694 |
gols fez Marcinho, artilheiro do time no ano. O dado até seria normal se o jogador não tivesse saído do clube em julho. | foi o aproveitamento do Flamengo na série de sete jogos que o tirou da liderança do Brasileiro. | pagantes é a média do clube no Brasileirão de 2008. |
O MICO
A viagem de 12 horas para o México entre os dois jogos da final do Estadual foi tirada de letra. O Flamengo derrotou o América-MEX por 4 a 2, fora de casa, atropelou o Botafogo no duelo regional e organizou a festança do título e da despedida do técnico Joel Santana no Maracanã. A vaga às quartas-de-final da Taça Libertadores era mero detalhe.
Mas houve um lapso: o clube esqueceu de avisar a Cabañas. O paraguaio foi o protagonista de um dos maiores vexames da história do clube. Mais de 47 mil torcedores estiveram no Maracanã e vibraram com o vídeo em homenagem a Joel, de partida para a África do Sul.
No entanto, o clima descontraído, com direito a uma série de gols perdidos no início da partida, transformou-se em apreensão. Cabañas e Esqueda marcaram 2 a 0 ainda no primeiro tempo.
A tragédia se consumou quando o paraguaio gordinho cobrou falta aos 32 do segundo tempo, a bola desviou em Obina e entrou no canto direito de Bruno: 3 a 0 e um Maracanazo que comprometeu o resto da temporada. No jogo seguinte no Maracanã, a faixa “Brasileiro é obrigação” passou a marcar território. Nem a imposição surtiu efeito e o Flamengo termina 2008 sem exorcizar o fantasma criado na noite do dia 7 de maio.
A REVELAÇÂO
Ele estreou aos 18 anos e com a obrigação de marcar Edmundo. Enquanto esteve em campo, o time reserva do Flamengo venceu o Vasco por 2 a 0. Assim que saiu, os cruzmaltinos conseguiram empatar.
A primeira impressão se confirmou e Aírton fecha 2008 como o grande achado do clube. Criado no Nova Iguaçu, ele foi recomendado por Adílio e chegou para o time de juniores em janeiro.
Em três meses, foi puxado por Joel Santana para os profissionais. Mas a vaga no time titular só veio no fim do ano. Técnico e com ótima capacidade de desarme, o volante teve 50% dos direitos econômicos comprados e renovou por mais quatro anos.
A DECEPÇÂO
Ronaldo participou até das preleções do técnico Caio Júnior antes dos treinos. O uniforme dele durante as atividades na Gávea era personalizado. Em todas as entrevistas, o Fenômeno reiterava a disposição de jogar no Flamengo, clube que amava, quando se recuperasse da lesão no joelho esquerdo.
O namoro cortês indicava um casamento. Entretanto, a contratação virtual rubro-negra transformou-se em decepção. Ronaldo acertou com o Corinthians e virou persona non grata na Gávea. Marcio Braga e Kleber Leite o criticaram. Os adjetivos desonrosos variaram de traidor a antiético. No auge da fúria, alguns torcedores rasgaram e queimaram fotos do craque.
O DEPOIMENTO
O ano de 2008 começou de forma promissora para o torcedor do Flamengo, após a sensacional arrancada no Brasileiro de 2007 e a conquista de uma vaga na Libertadores novamente. Foi mantida a base de 2007 e contratados importantes reforços como Marcinho, Kleberson, Tardelli, Jônatas, Rodrigo, Gavilan e outros.
A confiança e o entusiasmo aumentaram com a conquista de mais um estadual e empatando com o Fluminense em número de conquistas (30). Passamos sem maiores problemas pela fase de grupos da Libertadores e pegamos o América-MEX nas oitavas. Fizemos 4 a 2 no México e a expectativa era grande para o jogo da volta. Todos já combinando para invadir a Vila Belmiro nas quartas contra o Santos e o que acontece? A primeira tragédia do ano! América-MEX 3 a 0, no Maracanã.
No Brasileiro, mais oito meses de sofrimento para a torcida do Flamengo. O time desacreditado conquista novamente a confiança da torcida e lidera de forma surpreendente no início. E entre idas e vindas de decepção e alegria, mais tragédias em casa, onde no ano anterior nos fizemos imbatíveis. E o pior foi isso, por mais que o time não merecesse, a torcida nunca deixou de acreditar. Assim é o rubro-negro!
E o time que liderou o campeonato, ficou várias rodadas no G-4, teve o melhor ataque, não conseguiu nem uma vaga na Libertadores. Difícil de acreditar, apesar das inúmeras chances dadas pelos adversários.
Estive em todos esse jogos, e espero que em 2009 as coisas aconteçam de forma diferente. Para melhor, é claro" - Fabiano Coelho Alves, estudante de engenharia.
A APOSTA PARA 2009
O fim de ano do Flamengo foi de poucas novidades para a torcida. Endividado e apostando no mesmo grupo de jogadores deste ano, o clube optou por uma mudança na filosofia. Contratou o técnico Cuca e decidiu entregar a ele a função de pinçar novos talentos. Por enquanto, apenas o zagueiro Douglas e o volante Willians, ambos ex-Santo André, foram contratados. O treinador tem também uma missão especial: conduzir a equipe ao quinto tricampeonato carioca da história
A IMAGEM
Aos 47 minutos do segundo tempo da decisão da Taça Guanabara, Diego Tardelli acertou o ângulo esquerdo de Castillo e garantiu o título para o Fla. Enquanto os rubro-negros festejavam, no vestiário em frente, os jogadores do Botafogo reuniram a imprensa e choraram diante das câmeras. Alegavam que houve diversos erros de arbitragem. A cena ficou conhecida como “chororô”.
A resposta não demorou. Na partida seguinte, contra o Cienciano, pela Libertadores, a torcida do Flamengo criou uma música ironizando o “chororô”. Dentro de campo, o atacante Souza também debochou. Depois de fazer um gol, ele colocou as mãos no rosto como se estivesse chorando.
A imagem gerou retaliações dos alvinegros, que prometeram vingança na final do Carioca. Não conseguiram e tiveram de aturar novamente o atacante.
- Sabia que eles seriam vice-campeões. Agora, podem chorar novamente – disse o jogador, que trocou a Gávea pelo Panathinaikos-GRE, em julho.
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